fevereiro 18, 2008

A dança de Marcelino




Na edição de número 16 da Revista Discutindo Literatura, Micheliny Verunschk traça um perfil do escritor Marcelino Freire que está prestes a dar à luz: em abril lançará "Rasif - Mar que Arrebenta".

Percorrendo as trilhas de Marcelino que "se consolida como um dos mais urgentes autores da prosa nacional", destaco um trecho do artigo que traduz de forma pontual o estilo deste sergipano que assusta e encanta:

"Não é impossível que a leitura dos contos de Marcelino cause no leitor emoções tão diametralmente opostas, que se traduzam no choro ou no riso. No entanto, o riso que invariavelmente pode provocar é mais um espasmo de angústia e nervosismo do que de alegria. Não há possibilidade de salvação no universo lúcido e cruel do autor, mas esse universo canta e dança sua perdição e nisso reside a sua beleza. Para Nelson de Oliveira, há um músico e um dançarino coexistindo em Marcelino Freire: "o músico agarra-se às dissonâncias do maxixe e do maracatu. O dançarino distribui pernadas a três por quatro". E segue sendo essa a sua coreografia, dura e violenta, mas profundamente humana."

E pra quem não conhece vai um trecho de Muribeca (do livro Angu de Sangue) que poderá ser lido na íntegra clicando aqui.



Muribeca
Lixo? Lixo serve pra tudo. A gente encontra a mobília da casa, cadeira pra pôr uns pregos e ajeitar, sentar. Lixo pra poder ter sofá, costurado, cama, colchão. Até televisão.É a vida da gente o lixão. E por que é que agora querem tirar ele da gente? O que é que eu vou dizer pras crianças? Que não tem mais brinquedo? Que acabou o calçado? Que não tem mais história, livro, desenho?E o meu marido, o que vai fazer? Nada? Como ele vai viver sem as garrafas, sem as latas, sem as caixas? Vai perambular pela rua, roubar pra comer?E o que eu vou cozinhar agora? Onde vou procurar tomate, alho, cebola? Com que dinheiro vou fazer sopa, vou fazer caldo, vou inventar farofa?



Foto:ligiapin (Cantos Negreiros 2007)

3 comentários:

Giuliano Gimenez disse...

olá, lembro-me de ter escrito isto há algum tempo.
e é a mais pura verdade.

"O conto "Muribeca", que integra a obra Angu de Sangue, de Marcelino Freire, é um sucesso quando faço uma leitura em sala de aula. E suas múltiplas interpretações são todas, todas ricas. Crianças de 5º a 6º série ficam loucas com o conto. Talvez seja o efeito coloquial de narrar do Marcelino Freire. Talvez seja a realidade tão cara. Tão próxima. No entanto uma interpretação me chamou muito a atenção. Em São José dos Pinhais, numa das escolas em que dou aula, uma menininha da quinta série, após eu tentar introduzir uma reflexão mais coerente (se é que tal troço existe), com perguntas do tipo qual é o tema do texto, o assunto do conto, isto é, do que ele está falando?, após estas perguntas de praxi, a menininha respondeu, timidamente:

- Da esperança?"

[Giuliano Gimenez]

Um abraço.

Lígia Pin disse...

Adorei saber que os textos de Marcelino chegam´ao Fund. II!!!
;o)

Giuliano Gimenez disse...

Temos que estabelecer um contato imediato com as leituras em sala de aula.
E leitura é o que há em matéria de língua portuguesa.