agosto 01, 2010

Além do bastidor

The Lacemaker
Vermeer

(...)
Assim, aos poucos, sem risco, um jardim foi aparecendo no bastidor. Obedecia às suas mãos, obedecia ao seu próprio jeito, e surgia, como se no orvalho da noite se fizesse a brotação.
Toda manhã a menina corria para o bastidor, olhava, sorria e acrescentava mais um pássaro, uma abelha, um grilo escondido atrás de uma haste. O sol brilhava no bordado da menina.
E era tão lindo o jardim que ela começou a gostar dele mais do que qualquer outra coisa.
Foi no dia da árvore. A árvore estava pronta, parecia não faltar nada. Mas a menina sabia que tinha chegado a hora de acrescentar os frutos. Bordou uma fruta roxa, brilhante, como ela mesma nunca tinha visto. E outra, e outra, até a árvore ficar carregada, até a árvore ficar rica, e sua boca se encher do desejo daquela fruta nunca provada.
A menina não soube como aconteceu. Quando viu, já estava a cavalo no galho mais alto da árvore catando as frutas e limpando o caldo que lhe escorria da boca.
(...)

Além do bastidor
Marina Colasanti
Uma ideia toda azul / Ed. Global

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