André Garcia, criador do Estante Virtual, portal de compra de livros usados mais famoso do país, está na Edição 53 da Revista Língua Portuguesa. A entrevista, que reproduzo parcialmente, pode ser lida na íntegra clicando aqui.
O brasileiro não gosta de ler ou não compra livros por achar muito caro?
Os dois. Há muita gente que poderia gostar e não gosta, mas há ainda mais gente disponível à leitura se o livro fosse barato. Para quem não gosta de ler, há a razão educacional: a escola ensina a não gostar, usa uma metodologia que tem êxito inverso. Temos uma base pedagógica em que ler é obrigatório e a biblioteca é vista como lugar de castigo. Mas leitura é subjetividade, é ver o que agrada à sensibilidade e se ajusta à sua forma de ser, ao seu momento. A escola nunca me deu esse espaço e duvido que, salvo exceção, garanta isso a muito aluno. Para os que driblam a escola e aprendem a gostar de ler, há um preço alto a ser encarado. Se você considerar só a lista dos dez mais vendidos, a média é de R$ 43 o exemplar. Lê esses livros quem tem mais recurso.
O livro pode virar fator de exclusão social?
Sem estímulo à escolha, sim. Há essa segmentação, em que uma minoria de livros é bem mais apresentada que todo o resto. A leitura termina aberta a um universo restrito de não mais que uns vinte livros. Uma derrota para a cultura. As pessoas leem só isso? O.K., melhor que não ler. Mas é um quadro de pauperização preocupante. Não basta democratizar a leitura. É preciso democratizar os autores de qualidade.
Daí o papel dos sebos...
Drummond tem uma crônica, O Sebo, em que diz que o sebo é o verdadeiro templo da democracia literária. As livrarias se concentram nos 20% de produtos responsáveis por 80% das vendas. Fazem isso não porque são "malvadas", mas por não haver espaço para tudo. Não há como dar vazão a 1.500 títulos novos todo mês, 52 por dia, fora as reedições. Já o sebo virou uma reserva cultural. Nele, há os de agora, os de antes, os fora de catálogo. Estamos falando da história editorial do país, não só dos livros do momento.
Muitos evitam sebos pela poeira e desordem, não é?
Quem vê o sebo como o lugar de obras raras ou esgotadas deixa de usufruir o que ele tem a oferecer, pois trabalha com livro novo, seminovo ou em edição. À medida que as livrarias priorizaram os mais vendidos, os sebos viram que a demanda por eles cresceu. Boa parte se modernizou, está organizada. Os sebos com bagunça, obras empilhadas, empoeiradas, hoje são minoria.
O início foi difícil?
No um ano que levou para preparar o site, mapeei o mercado. No final de 2005, quando lancei o Estante, contávamos com 68 sebos. Hoje temos 600 mil clientes a quem vendemos 5 mil livros ao dia. É mais do que as lojas de rua da Travessa, rede tradicional do Rio, ou do serviço on-line da Cultura, de São Paulo. Não vendemos o livro diretamente, fazemos a intermediação entre o livreiro e o comprador. A cada mil livros on-line, cada sebo fatura em média R$ 600 mensais.
Que livro é procurado?
Literatura estrangeira e brasileira, uns 20% e uns 15% da procura cada, o resto é pulverizado. O livro mais vendido é Vidas Secas, do Graciliano Ramos, que não chega a 900 cópias vendidos. É pouco, claro. No Estante, a venda é pulverizada, não há a discrepância das livrarias, em que um livro dispara milhares de cópias e o 50º mais vendido não passa de dezenas de exemplares. Nos sebos, não. O consumo é bem mais equilibrado. Considero isso uma vitória deles, que têm acervos diversificados e servem a todo gosto, não a um ou outro autor, editora ou tipo de leitura.
Para além da venda, a internet estimula a leitura?
Autores que não conseguem editora escoam sua produção em blogs. Nessa hora, a internet ajuda a ler e a criar. Mas o gênero mais lido da rede é o jornalístico, leitura informacional, utilitária, não uma ordem de leitura, digamos, mais preciosa. A internet atrapalha, de fato, quando a ênfase da leitura é nos simulacros de interação, como orkut, MSN, Twitter. Eu me pergunto se essas são reais formas de interação, se as comunidades interagem como comunidade. No Orkut, são muito usadas como decalque para a pessoa inserir em seu perfil. Não há convivência genuína.
Os dois. Há muita gente que poderia gostar e não gosta, mas há ainda mais gente disponível à leitura se o livro fosse barato. Para quem não gosta de ler, há a razão educacional: a escola ensina a não gostar, usa uma metodologia que tem êxito inverso. Temos uma base pedagógica em que ler é obrigatório e a biblioteca é vista como lugar de castigo. Mas leitura é subjetividade, é ver o que agrada à sensibilidade e se ajusta à sua forma de ser, ao seu momento. A escola nunca me deu esse espaço e duvido que, salvo exceção, garanta isso a muito aluno. Para os que driblam a escola e aprendem a gostar de ler, há um preço alto a ser encarado. Se você considerar só a lista dos dez mais vendidos, a média é de R$ 43 o exemplar. Lê esses livros quem tem mais recurso.
O livro pode virar fator de exclusão social?
Sem estímulo à escolha, sim. Há essa segmentação, em que uma minoria de livros é bem mais apresentada que todo o resto. A leitura termina aberta a um universo restrito de não mais que uns vinte livros. Uma derrota para a cultura. As pessoas leem só isso? O.K., melhor que não ler. Mas é um quadro de pauperização preocupante. Não basta democratizar a leitura. É preciso democratizar os autores de qualidade.
Daí o papel dos sebos...
Drummond tem uma crônica, O Sebo, em que diz que o sebo é o verdadeiro templo da democracia literária. As livrarias se concentram nos 20% de produtos responsáveis por 80% das vendas. Fazem isso não porque são "malvadas", mas por não haver espaço para tudo. Não há como dar vazão a 1.500 títulos novos todo mês, 52 por dia, fora as reedições. Já o sebo virou uma reserva cultural. Nele, há os de agora, os de antes, os fora de catálogo. Estamos falando da história editorial do país, não só dos livros do momento.
Muitos evitam sebos pela poeira e desordem, não é?
Quem vê o sebo como o lugar de obras raras ou esgotadas deixa de usufruir o que ele tem a oferecer, pois trabalha com livro novo, seminovo ou em edição. À medida que as livrarias priorizaram os mais vendidos, os sebos viram que a demanda por eles cresceu. Boa parte se modernizou, está organizada. Os sebos com bagunça, obras empilhadas, empoeiradas, hoje são minoria.
O início foi difícil?
No um ano que levou para preparar o site, mapeei o mercado. No final de 2005, quando lancei o Estante, contávamos com 68 sebos. Hoje temos 600 mil clientes a quem vendemos 5 mil livros ao dia. É mais do que as lojas de rua da Travessa, rede tradicional do Rio, ou do serviço on-line da Cultura, de São Paulo. Não vendemos o livro diretamente, fazemos a intermediação entre o livreiro e o comprador. A cada mil livros on-line, cada sebo fatura em média R$ 600 mensais.
Que livro é procurado?
Literatura estrangeira e brasileira, uns 20% e uns 15% da procura cada, o resto é pulverizado. O livro mais vendido é Vidas Secas, do Graciliano Ramos, que não chega a 900 cópias vendidos. É pouco, claro. No Estante, a venda é pulverizada, não há a discrepância das livrarias, em que um livro dispara milhares de cópias e o 50º mais vendido não passa de dezenas de exemplares. Nos sebos, não. O consumo é bem mais equilibrado. Considero isso uma vitória deles, que têm acervos diversificados e servem a todo gosto, não a um ou outro autor, editora ou tipo de leitura.
Para além da venda, a internet estimula a leitura?
Autores que não conseguem editora escoam sua produção em blogs. Nessa hora, a internet ajuda a ler e a criar. Mas o gênero mais lido da rede é o jornalístico, leitura informacional, utilitária, não uma ordem de leitura, digamos, mais preciosa. A internet atrapalha, de fato, quando a ênfase da leitura é nos simulacros de interação, como orkut, MSN, Twitter. Eu me pergunto se essas são reais formas de interação, se as comunidades interagem como comunidade. No Orkut, são muito usadas como decalque para a pessoa inserir em seu perfil. Não há convivência genuína.
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