Sobre feiúra, Humberto Eco relata que na Idade Média, era considerado feio e desagradável - e posteriormente proibido pela Igreja Católica - o intervalo musical entre algumas obras. O trítono - um intervalo entre alturas de duas notas musicais que possua exatamente três tons inteiros e produz uma das mais complexas dissonâncias possíveis na música ocidental, causando sensação de tensão e movimento - era tão perturbador que recebeu o nome de Diabolus in musica. Para alguns estudiosos essas dissonâncias tem poder excitante.
O caso de diabolus in musica poderia ser, segundo Eco, um exemplo interessante para o caso da história da feiúra, pois inspira reflexões:
- o feio é relativo aos tempos e às culturas;
- o inaceitável de ontem pode ser o bem aceito de amanhã;
- o que é percebido como feio pode contribuir, em um contexto adequado, para a beleza do conjunto;
- se o diabolus sempre foi empregado para criar tensão, então existem reações baseadas em nossa fisiologia que permanecem mais ou menos inalteradas através do tempo e das culturas. Pouco a pouco, o diabolus foi aceito, não porque tinha se tornado agradável, mas justamente por causa do cheiro de enxofre que nunca perdeu.
(Anotações pessoais para a leitura de A história da Feiúra - Humberto Eco).
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