janeiro 11, 2010

Paulina Chiziane


Paulina Chiziane (Gaza, 4 de Junho 1955) é uma escritora moçambicana. Nasceu numa família protestante onde se falavam os dialétos Chope e Ronga. Aprendeu a língua portuguesa na escola da missão católica. Começou os estudos de Linguística na Universidade Eduardo Mondlane sem, porém, ter concluído o curso. Participou activamente à cena política de Moçambique como membro do partido Frelimo (Frente Liberação Moçambique), no qual militou durante a juventude; candidatou-se e venceu as primeiras eleições multi-partidárias em Moçambique em 1994. Deixou de se envolver nas políticas para se dedicar à escrita e publicação das suas obras. Iniciou a sua actividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa moçambicana. Com o seu primeiro livro, Balada de Amor ao Vento, editado em 1990, tornou-se a primeira mulher moçambicana a publicar um romance. Paulina vive e trabalha na Zambézia.
(Fonte:wikipedia)

Em entrevista à Revista Língua Portuguesa (n.50), Paulina mostra um pouco do seu pensar e de como a literatura entrou em sua vida. Leia parte da entrevista que se encontra na íntegra, aqui.

O que representa ser a primeira romancista de Moçambique?
Comecei a escrever minhas histórias, então alguém chegou e disse: você é a primeira. Sou? Tudo bem. Mas não sinto peso e nem quero responsabilidades. Escrevo porque gosto.

É certo dizer que você é uma escritora com alma de repórter?
É quase isso. Se você for ver, a maior parte das coisas que escrevo eu não as inventei. São os ditos, os sentimentos das pessoas que vou colhendo até de forma inconsciente. Depois penso se vou escrever. No meu país, as pes­soas me perguntam se sou romancista, se escrevo ficção. Pois eu digo: a vida em Moçambique é uma verdadeira ficção. Não preciso dar trabalho à minha cabeça. Vou para a rua e logo arranjo uma história.

Você busca suas histórias nas fontes orais. O que se ganha e perde na hora de transferi-las para a escrita?
Perde-se muito, pois há expressões muito próprias, quase intraduzíveis. Então a gente tem de fazer um arranjo aqui, outro ali e as coisas acabam não sendo exatamente aquilo que pretendíamos que fossem. Sobretudo os provérbios, os ditados.

Poderia dar um exemplo?
Há uma expressão em changana, língua da região de Gaza, no sul, assim: Maxwuela ku hanha! Vta sala u psi vona! "Nasceste tarde! Verás o que não vi!" Isso em português não tem o mesmo sentido. Se a pessoa diz isso, está a fazer um julgamento, a rogar uma praga, a chamar-me a atenção. Isso em português fica uma frase sem gosto.

É muito diferente o português falado por essas regiões?
Se você for a Nampula [província ao norte do país] vai ouvir um português, na Zambézia [região centro-norte] vai ouvir outro. E, cada dia que passa, quando ligo a televisão num canal português, tenho a certeza de que a língua portuguesa falada em Portugal é diferente da falada em Moçambique. O mesmo em relação ao Brasil. É igual, mas diferente da minha. Afinal, que língua eu falo?

Qual sua opinião sobre a reforma ortográfica?
Para mim, a evolução tem de acontecer, nós não podemos parar no tempo. Mas tenho vários dicionários que comprei com dificuldade. E agora vou comprar tudo outra vez? Faz-me pena. Pra mim, acima de tudo, o problema é econômico. Vamos gastar muito dinheiro com isso. Mas o acordo em si vai facilitar, a língua portuguesa estava a precisar.
Como se desenvolve a literatura daqui?
A literatura moçambicana ainda está a nascer, estamos a construí-la. O conceito, a forma de uma literatura, vem da cultura. Em Moçambique, os grandes contadores de história, na minha tradição, começam com provérbios ou histórias curtas para depois chegar ao grande assunto. Há maneiras nossas de contar histórias, que não estão escritas nem pesquisadas, estão marginalizadas. Aprendemos a contar a história pela cultura europeia. Não sou contra a cultura europeia, mas contra a imposição de um modelo. Alguma coisa da cultura africana tem de ser preservada.

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